A leitura deste belo livro - MEMÓRIAS DE UMA VIVÊNCIA EM ÁFRICA (Angola) E NA EUROPA (Portugal) - de fácil e mui agradável leitura, permite ao leitor que nunca esteve em África e aos que por lá passaram ou viveram, conhecer a Angola profunda dos anos de colonização interna que a arrancou duma situação quase primitiva, a custo e com o sacrifício dos esforçados portugueses/as, conjuntamente com o bom povo angolano, para uma nova Angola, em continuo e rápido desenvolvimento, que os portugueses que a ela se dedicaram dalma e coração foram obrigados a abandonar de mãos vazias e coração partido para todo o sempre. A autora deste testemunho, rico em memórias e importantes informações sobre a maior Província Ultramarina do velho Império Colonial Português, relatadas em forma romanesca, através duma vivência da jovem Mila que pelas circunstâncias rapidamente virou MULHER, ao longo duma vida cheia - com muito ainda para dar é uma querida amiga com uma invejável força interior que muito admiro e me honra ter conhecido através duma das suas filhas. O subtítulo deste livro - OU MATO OU MORRO (expressão dos angolanos do mato), traduz bem a luta estoica que ela desde cedo teve de travar para sobreviver na selva da vida em que teve de singrar, quer em Angola dos finais dos anos 30 60, mas particularmente aquando da descolonização imposta - de má memória - quer depois como retornada ao seu torrão natal de onde ainda hoje se sente desenraizada, tal as saudades da Angola dos anos 60 a meados dos anos 70, que, apesar duma guerra imposta por interesses prepotentes, transpirava abundância para todos filhos e netos de ex-colonos já nascidos em Angola e nativos, irmanados numa sã convivência e mútuos interesses. A Mila do livro é real, não é ficção viveu no interior de Angola como jovem Mãe e mulher dum Chefe de Posto, com a responsabilidade acrescida e desde logo assumida, também como mestre-escola e de protecção dos nativos, em especial das mulheres e crianças mais necessitadas e ou desprotegidas, a princípio com as privações inerentes ao isolamento de alguns Postos afastados de tudo e de todos, deram-lhe desde cedo a experiência necessária para a vida que teve de enfrentar, qual Mãe Coragem. Já retornada a Portugal, como tantos outros, teve de recomeçar praticamente do nada, sozinha com filhas adolescentes a seu cargo, agravado com as dificuldades inerentes ao tempo à condição de mulher integra, que sempre foi. Lutou e venceu! Já reformada conseguiu finalmente realizar um sonho da juventude tirar um curso superior quantas vezes quase impedida por barreiras abjectas levantadas por invejas e leviandades inqualificáveis, de que sou testemunha, mas que sempre ultrapassou com a determinação de quem adoptou o lema ou mato ou morro. Finalmente o LIVRO, que com tanto empenho escreveu para memória futura e não só. A Mila do livro continua determinada e pronta a continuar a partilhar o muito que ainda tem para nos dar com a sua força e sensibilidade de Mulher/Mãe. Manuel Maria Potes Cordovil Presidente da AIAA Associação Internacional Amigos de Angol