O autor recupera uma antiga receita, a da Sopa de pedra, um conto popular que, tal como acontece frequentemente com os contos de origem tradicional, apresenta diferentes versões consoante o país.
Darabuc, conhecedor desta rica tradição, inspira-se nela mas reelabora os ingredientes e cozinha uma Sopa de Nada, pessoal, moderna e com grandes doses de humor. O resultado é uma fábula com que as crianças aprenderão a importância de partilhar e de se ser solidário. E além disso, descobrirão que, para superar situações de necessidade e dificuldades, muitas vezes só é preciso um pouco de engenho e imaginação.
Os protagonistas, tal como em quase todas as fábulas, são animais. Neste caso, Maria Raposa e João Gato, dois astutos que um belo dia chegam às portas de um palácio a pedir comida. Ali vive o avarento do João Rato que não lhes quer dar nada, e eles então oferecem-se para lhes preparar uma sopa prodigiosa, a sopa de nada.
O autor joga com o simbolismo das personagens uma vez que, tanto a raposa como o gato são animais a que o imaginário coletivo atribui características como a inteligência ou a astúcia. E outro tanto se pode dizer do rato, animal associado tradicionalmente à avareza.
Darabuc aposta numa estrutura dialogada em que as réplicas e contrarréplicas sempre engraçadas das personagens fazem avançar a história. O esquema, que em linhas gerais se mantém fiel à tradição, é o seguinte: Maria Raposa sugere algum ingrediente com que a sopa ficaria muito melhor e João Rato, que não se apercebe da artimanha, aceita de bom grado dá-lo, porque só se trata de um ingrediente sem importância.
A repetição de todos os ingredientes cada vez que se adiciona um novo, para além de contribuir para o ritmo da história, brinda os mais pequenos com uma oportunidade de ouro para trabalharem algumas das unidades de medida (pitada, fio, punhado, enfiada) mais habituais na cozinha.
Reforçam também o ritmo da narração outros recursos como a medida dos versos ou a presença de fórmulas que se repetem do princípio ao fim.