Raul Brandao

O facto de o livro ter conhecido três versões em menos de dez anos é um dos seus aspectos mais fascinantes, na medida em que um tão extenso trabalho de refundição nos revela uma inquietação fundamental do escritor, relacionada com a experiência íntima da criação e com a problemática da escrita. A presente edição crítica, que restitui a última edição revista por Raul Brandão (Livs. Aillaud & Bertrand, Paris-Lisboa, s/d), é acompanhada das reproduções fac-similadas da edição princeps (Renascença Portuguesa, Porto, 1917) e da segunda edição, amplamente refundida (Renascença Portuguesa - Porto; Annuario do Brasil -Rio de Janeiro, 1921). O leitor pode agora dispor de todos os elementos que lhe permitem comparar as diferentes versões da obra e seguir esse work in progress: da escrita ao texto, do texto à obra - uma obra suspensa do gesto que eternamente a recomeça.

Abalada pelo sentimento de crise (tão bem figurado no prefácio do vol. I das Memórias), a obra de Raul Brandão (Foz do Douro, 1867 — Lisboa, 1930) conduz-nos a um confronto ambivalente com a realidade — entre o pitoresco e o dramático, o cómico e o patético, o grotesco e o trágico, o nojo e o encanto terno, o «enxurro» e o «sonho»… Em torno de personagens tragicómicas como Gabiru ou Gebo, «dum lado mora o espanto, doutro o absurdo»; e até o silêncio é clamor e grito, na dialéctica da Dor e no júbilo grave com que se aceita a Vida.

Abalada pelo sentimento de crise (tão bem figurado no prefácio do vol. I das Memórias), a obra de Raul Brandão (Foz do Douro, 1867 ? Lisboa, 1930) conduz-nos a um confronto ambivalente com a realidade ? entre o pitoresco e o dramático, o cómico e o patético, o grotesco e o trágico, o nojo e o encanto terno, o «enxurro» e o «sonho»? Em torno de personagens tragicómicas como Gabiru ou Gebo, «dum lado mora o espanto, doutro o absurdo»; e até o silêncio é clamor e grito, na dialéctica da Dor e no júbilo grave com que se aceita a Vida.

de toda a literatura portuguesa, Húmus consiste numa sequência de fragmentos datados à maneira de um diário, exprimindo tudo isso a que poderia chamar-se a dor humana, o sofrimento humano. Carregada de um pathos expressionista, a escrita acompanha monólogos interiores próximos do inconsciente e atormentados por grandes questões sem resposta - o bem e o mal, a ausência de Deus, a culpa e o remorso, etc. - , reflectindo a inquietação e o drama de personagens como Gabiru, para quem "a vida é muito maior pelo sonho do que pela realidade", e descobrindo nesse mundo onírico os supremos instantes de terror, assombro ou sobressalto em que a existência parece revelar-se no seu ministério mais insondável. Ao mergulhar num terreno vizinho da loucura (ou da lucidez alucinada), descendo ao "húmus" da alma humana, Raul Brandão (1867-1930) mistura o sublime, o patético e o grotesco numa vertigem que ainda hoje nos perturba e faz ler este texto como um dilacerante grito de angústia e desespero.

"Hace cincuenta años que no se recuerda aquí nadie que haya muerto de accidente en el mar. A veces la ola vuelca el barco, envuelve a los hombres y los deja sin sentido. Cuando los sacan por muertos, fuera del mar, los meten en sal como a las sardinas, "para apretarles los huesos". Es gran remedio, dicen. El año pasado hubo uno que, después de estar en sal durante cuarenta y ocho horas, todavía volvió en sí".

Corre el verano de 1924 cuando Raul Brandão zarpa en el São Miguel para realizar un largo viaje por los archipiélagos de las Azores y Madeira. Dos años después se publica Las islas desconocidas, su cuaderno de aquel viaje. En sus páginas descubrieron los portugueses del continente (y también los brasileños y los franceses) una tierra mágica, exótica, casi salvaje, dedicada a la caza -magnífica y bárbara- de la ballena. Sus pueblos y sus paisajes, pero sobre todo lo sobrenatural, el espíritu de sus lugares formados por el aire, el agua, la tierra y el fuego, llenan las páginas de este libro; un libro que es casi un milagro, una obra maestra que, sorprendentemente, se publica por primera vez en español.

La aparición de Humus, (que conoció tres ediciones diferentes, hasta que el autor publicó la versión definitiva en 1926), dejó al descubierto un nuevo espacio en la historia de la ficción portuguesa. La radical originalidad de la obra rompio las estructuras narrativas tradicionales, hasta desdibujar las fronteras entre la poesia y la narrativa. Esta ruptura permite en el texto la convivencia de lo onirico y lo fantasmagorico, junto a historias de un realismo crudo, cercano a la herencia naturalista del autor. Llena de pasajes de gran profundidad filosofica y poetica, la obra, escrita bajo la forma de un diario fragmentado, toma como espacio central una villa sin nombre. Este lugar, que representa toda la escala social y existencial de lo humano, sera el escenario que pueblen distintos personajes. Entre figuras desdibujadas hasta lo grotesco, detenidas por costumbres e imperativos morales absurdos, se erige una voz fundamental: la de Gabiru, dispuesto a descender hasta lo mas profundo de la conciencia humana, para llegar al humus existencial que media entre la vida y la muerte. De esta forma, el autor realiza su busqueda en los espacios que quedan entre los angulos opuestos de la existencia, ya que, tal como se afirma en el libro, el mundo esta hecho de dolor la vida esta hecha de ternura